terça-feira, 25 de janeiro de 2011

As três testemunhas


Jesus nos comissionou a testemunharmos sua palavra e ordenou que fôssemos por todo o mundo pregando o evangelho a toda criatura (Marcos 16.15). Cristo também nos enviou para fazermos discípulos (Mateus 28.19) e nos prometeu que seríamos suas testemunhas (Atos 1.8). O curioso é que, em Atos 1.8, vemos que os discípulos somente se tornariam testemunhas depois que recebessem o poder do Espírito Santo. Em João 3.5, lemos que, além do Espírito, há outra coisa que a testemunha necessita – a água: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”. O próprio João, por sua vez, nos afirma que além do Espírito e da água, há um terceiro elemento fundamental para que alguém possa se tornar uma verdadeira testemunha de Cristo: o sangue. João escreveu o seguinte:

“E três são os que testificam na terra: o Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito” (1 João 5.8).

João nos ensina que a verdadeira testemunha deve trazer em si esses três elementos: o Espírito, o sangue e a água. Analisemos, portanto, desvendando o original, o que é ser testemunha de Cristo e qual é a sua relação com o Espírito, a água e o sangue.

Em grego, a palavra testemunha é “martureo”, que se relaciona com “martus”, traduzido por “mártir”. Em primeiro lugar, concluímos que a verdadeira testemunha é aquela que está disposta a entregar sua vida pela causa do evangelho. O verdadeiro cristão, aquele que realmente quer atender ao chamado de Cristo, deve ter em si o ardente desejo de anunciar o evangelho, custe o que custar. Isso envolve um sério risco de perseguição e morte. Ser uma testemunha é verdadeiramente perder a vida por Cristo, como está escrito: “Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á” (Marcos 8.35). A verdadeira testemunha não se importa em perder sua vida pelo evangelho, pois ela crê na palavra que diz: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11.25). A verdadeira testemunha vive com esta promessa gravada em seu coração, pois para ele, “viver é Cristo e morrer é lucro” (Filipenses 1.21), porque não é mais ele quem vive, mas Cristo que vive através dele (Gálatas 2.20). Paulo é um excelente exemplo da verdadeira testemunha, pois entregou sua vida e tudo que tinha pela causa do evangelho.

O termo grego “martureo” também se relaciona com “mermera”, que significa “zelo” ou “problema”. Isso porque o cristão que é zeloso é um portador do testemunho de Cristo, e isso gera ódio no inimigo, que tentará por todos os meios eliminar esse emissário da Palavra de Deus. Assim, a testemunha zelosa está sempre gerando problemas para o reino do inimigo e, por isso, vive em constante embate com as trevas.

Jesus já nos havia avisado sobre essa perseguição: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia” (João 15.18-19). Quem vem para Jesus para ser amigo de todos e busca viver uma vida tranquila, está enganado. O descanso é a nossa recompensa, e não o nosso chamado. Nós fomos chamados para arrombar as portas do inferno (Mateus 16.18) e levar cativos aqueles que estão no cativeiro do inimigo (Efésios 4.8). É por isso que a palavra grega para “testemunha” (martureo) também traz a ideia de “estar ansioso” (mermairein), pois o verdadeiro cristão está sempre ansioso por revelar Jesus àqueles que anseiam ardentemente pela revelação dos filhos de Deus (Romanos 8.19). Esse é o verdadeiro cristão. Essa é a testemunha.

Agora, analisemos a função do Espírito, da água e do sangue no chamado da testemunha. O Espírito é aquele que concede poder às testemunhas (Atos 1.8). Esse poder a orientará sobre tudo o que a testemunha deve fazer e por onde ela deve andar. Em hebraico, as palavras “espírito” (ruach), “viajar” (‘arach) e “caminho” (‘orach) estão todas relacionadas, porque o Espírito é o vento que conduz no caminho, como em João 3.8: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”. O Espírito é quem estabelece o itinerário da testemunha, mostrando-lhe o caminho em que deve andar. Se em hebraico a Lei (torah) é a seta que aponta (yarah) para o caminho (‘orach) e uma pá (rachat) que abre caminho (‘orach), o Espírito (ruach) é aquele que dá poder (koach) à testemunha para que ela possa andar no caminho e brilhar como uma lua (yerach) que reflete a verdadeira luz e traz o aroma (reyach) suave de Cristo (2 Coríntios 2.15). Essa é a capacitação que o Espírito concede à testemunha. 

A água também exerce função especial no ministério da testemunha. Em hebraico, a palavra “água” é “mayim”, relacionada ao mar (yam). O curioso é que a palavra hebraica para água (mayim), na primeira vez que aparece na Bíblia, está associada ao Espírito: “A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gênesis 1.2). Assim, vemos que essas duas testemunhas - o Espírito e a água - estão unidas desde a criação. Isso porque o Espírito conduz a testemunha pelo caminho sobre as águas, assim como Cristo e Pedro, que juntos andaram sobre as águas (Mateus 14.29). Andar sobre as águas significa andar sobre a palavra, pois a água representa a purificação feita pela palavra, como em João 15.3: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado”.

Além disso, a água e o Espírito, unidos, representam o novo nascimento, pois como vimos, “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (João 3.5). O novo nascimento nas águas e o batismo com o Espírito faz com que a pessoa deixe de ser um “homem natural” (1 Coríntios 2.14) e se torne um “homem espiritual” (1 Coríntios 2.15). Essa transformação, feita pela união entre água e Espírito, está relatada em Romanos 12.2: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

Após receber o Espírito e a água, a testemunha tem acesso à verdadeira vontade de Deus. Aquele que é nascido através da vontade de Deus (João 1.13) tem acesso à vontade de Deus e descobre que a vontade do Senhor é a santificação (1 Timóteo 4.3), e aprende que quem faz a vontade do Eterno permanecerá para sempre (1 João 2.17). Isso porque a vontade de Deus é que todos sejam salvos (1 Timóteo 2.4). Andar sobre as águas, através do Espírito, significa, portanto, conhecer e viver a vontade de Deus.

A palavra “água”, na verdade, aparece não somente no segundo versículo da Bíblia, mas no primeiro. Quando lemos em Gênesis 1.1 que Deus criou os “céus” e a terra, o termo traduzido por “céus” é “shamayim” que pode ser lido como fruto da união entre as palavras “fogo” (‘esh) e “água” (mayim). Ou seja, em hebraico, o céu é o local da habitação do fogo e da água. Assim, quando a testemunha recebe o Espírito, que sempre é acompanhado pelo fogo (Mateus 3.11), e a água, ela se torna um cidadão celestial, um embaixador (Efésios 6.20) da Nova Jerusalém. Espírito, fogo e água fazem da testemunha um fiel portador das coisas do alto.

Andar sobre as águas também significa andar sobre o desconhecido. Ainda que houvesse pescadores entre os judeus, o mar era um lugar desconhecido e temido na cultura judaica. Isso fica claro quando vemos a semelhança entre os termos hebraicos “mayim” (“água”), “yam” (“mar”), “ayom” (“terror”, “medo”), “eymah” (“horror”, “pânico”), “eymiym” (“terrores”, também nome de uma tribo cananeia composta por gigantes citada em Deuteronômio 2.10). A água, portanto, faz com que a testemunha vença o medo do desconhecido e passe a viver o sobrenatural de Deus.

Voltando a Gênesis 1.2, veremos que o Espírito pairava sobre as águas, e abaixo das águas havia o abismo. Quando o Espírito nos conduz a andar sobre as águas, nós cruzamos o abismo que há entre a morte e a vida. Esse abismo só pode ser cruzado antes da morte, para aqueles que receberam a salvação de Cristo. Após a morte, este abismo não pode ser cruzado, como Jesus nos ensinou na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16.20-31).

Os bruxos que seguem os escritos de Aleister Crowley, o maior satanista do século XX, utilizam a “árvore da vida” da cabala como forma de seguir uma iniciação esotérica até cruzarem o abismo, quando passam a ter plena comunhão com os demônios. Veja como o inimigo está sempre querendo imitar as coisas de Deus e corromper as verdades bíblicas. É impossível cruzar o abismo sem caminhar sobre a água da palavra e ser conduzido pelo Espírito Santo. Quando o bruxo “cruza o abismo”, sua vida passa a ser completamente dominado por demônios. Quando a testemunha de Cristo cruza o abismo, ela se torna um com Jesus.

Por fim, há o sangue. Se em grego sangue é “aima”, em hebraico é “dam”, palavra que tem um gama de significados, cada um expressando uma verdade espiritual. Em hebraico, “sangue” (dam) se relaciona com “Adão” (‘adam) e com “semelhança” (demuth), a mesma palavra usada em Gênesis 1.16, onde se lê que o homem foi feito à semelhança de Deus. Assim, quando a testemunha recebe o sangue (dam), ela retorna ao estado de Adão (‘adam) antes da queda, tornando-se semelhante (demuth) a Deus. Ela se torna parecida com Cristo, assim como um filho que se parece com seu pai. Recebe o poder de ser feito filho de Deus, pois crê no seu nome (João 1.12) e permanece em Cristo (João 15.5), cumprindo seus mandamentos (João 14.15). Sem o sangue (dam) o cristão é cortado (demiy), fica mudo (damam), pois não consegue pregar a Palavra. Com o sangue, o Cristão está vivo, pois a vida está no sangue (Levítico 17.11).

O sangue nutre as células, protege o corpo, retira as impurezas, transporta hormônios e regula a temperatura. Assim também o sangue de Cristo nutre a testemunha, a protege, limpa e não permite que se esfrie. É uma capacitação para a verdadeira testemunha de Cristo.

Que você possa ser capacitado por Cristo para se tornar uma testemunha fiel da verdade do Evangelho e da soberana vocação de Cristo (Filipenses 3.14), em Nome de Jesus!
::Daniel Lago

Jornalista formado pela UFRJ, doutor em Linguística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e professor de Filosofia da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo estudado hebraico na Sinagoga ARI, em Botafogo – RJ.


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